Sempre fui medrosa. Nunca pulava a cerca do parquinho ou ficava de cabeça pra baixo nos brinquedos. Balançava-me sem me arriscar muito, sem ir muito alto. Subia nas árvores porque não resistia, mas sempre achava que ia escorregar e bater a cabeça, ou que um pássaro ia passar voando, morrendo de raiva porque eu estava próxima demais do ninho aonde guardava seus ovos.
Cresci e vi meus amigos escorregando pelo toboágua. Sorriso estampado de orelha a orelha. Subia todas aquelas escadas com todas as borboletas dentro do estômago e quando chegava lá em cima, via a Terra toda ali, aos meus pés, virava para a amiga que seria a próxima a se aventurar e dizia baixinho, com medo de dizerem uma verdade sobre meus temores: Acho que vou desistir. Mas não tinha jeito, escorregava, mais recuando do que descendo, atrasando o tempo, arranhando os medos para que eles sumissem.
Nunca fui inconsequente. A frase 'Então, se joga' quase nunca fez real sentido pra mim, afinal, raramente me jogava sem ter a certeza de que isso não desencadearia em uma cabeça aberta, um braço quebrado ou um coração partido. Sempre pensei antes de falar, antes de agir, antes mesmo de pensar - sempre controlei meus pensamentos.
Mas hoje, considero-me a pior das covardes, pois fujo com o olhar. Falo enquanto olho para as nuvens e observo a lua. Vejo, espero e, na hora, miro o tênis - Nossa! Meu cadarço está desamarrado de novo!. É uma das poucas horas que ajo sem pensar, pois faço por impulso. Ignoro olhares que muito tem a me dizer, porque não quero ouvir, não quero saber. Tenho medo de tentar e consiguir entender. Quando percebo, lá estou eu, alheia, sendo mais covarde do que quando sentia medo de ficar de cabeça pra baixo por aí.