domingo, 25 de abril de 2010

Pra não dizer que não falei da luta

   _ Não importa o que eles façam! A USP está tomada pelos estudantes e não vamos sair até que o atual presidente saia do poder
   _ O Costa e Silva não vai deixar a cadeira dele. Acho melhor vocês evacuarem o prédio - era a sugestão da policia naquele momento
   _ Não. Sem negociações. Quando houver uma democracia, ligue para cá - desligou
   Era 20 de dezembro de 1968, há uma semana o Ato Institucional 5 fora implantado pelo atual presidente, o general Arthur Costa e Silva, e entre algumas medidas, a repreensão militar aumentou arduamente.
   A Universidade de São Paulo fora invadida por estudantes que protestavam e pediam pela redemocratização do país. Acredita-se que cerca de 150 jovens estavam no local para serem notados e quem sabe, ouvidos. Tinham ideais e estavam ali para buscá-los.
   Dali a cinco dias seria Natal, a família desses jovens pedia, aos prantos, para que saíssem do prédio de forma pacífica, sem tiros e sem resistência, mas para eles, não importaria se a polícia fosse usar da força ou não; não cojitavam, em hipótese alguma, abandonar a faculdade. Resistiriam até o fim, e no fundo, sabiam que os pais são seriam atendidos, porque se eles não cederiam, a polícia muito menos. Sabiam que haveria tiro, sangue e luta. E era exatamente o que queria. Quando maior o espetáculo, mais o circo é visto. Era tempo de Paz e Amor no mundo, mas ali eram um verdadeiro campo minado.
  
   Dia 24 de dezembro, véspera de Natal, a polícia já ameaçara por diversas vezes. Telefonemas chegavam a todo momento pedindo que os estudantes se rendencem. Chegavam notícias de todo o país. Diversas outras universidades federais haviam sido invadidas. Agora o movimento ia do litoral até o interior, de Norte a Sul do Brasil.
   A "galerinha" da USP estava empolgada com a repercussão do movimento, mas sabiam que quanto mais a notícia se espalhava, mais ameaçado o governo se sentiria. Começavam a pensar que talvez fosse a hora em que os atos tomariam o lugar das ameaças.
   _ Vocês não acham que logo a polícia invade o prédio? - uma ténua nuvem de aflição ocupava lugar na sala de aula ocupada por seis jovens
   _ Talvez. A gente vem esperando invasão há quatro dias. Pode ser hoje, pode ser depois - filosofava o moreno de Geografia
   _ Será que o mundo sabe do nosso protesto? - sonhava a loirinha de Direito
   _ O Brasil precisa saber. Não dá para ficar enviando intelectuais, músicos e escritores pra fora do país. Não dá pra ficar censurando cada música que saiu no Festival Internacional da Canção porque elas contam a verdade sobre esse país podre onde vivemos!
   E entre "Uhuuul", "É isso aí!" e palmas, o cara de Medicina pegou o violão e começou a dedilhar a marca de uma época de censura, quando o governo mandava no que era falado, cantado e publicado.
   "Caminhando e cantando e seguindo a canção/Somos todos iguais braços dados ou não/Nas escolas nas ruas, campos, construções/Caminhando e cantando e seguindo a canção/Vem, vamos embora, que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora, não espera acontecer"

   Dia 26 de dezembro a USP fora invadida pelos militares.
   Tiros, cacetetes, cavalos pisando em gente sem saber o que isso representa, fazendo mais papel do amigo medroso do que do vilão artroz.
   Passos sem rumo, suor que molhava o chão junto com as lágrimas.
   Fogo que vem de dentro, fogo que queima a biblioteca. Vontade de gritar, mas a palavra entala quando chega na garganta. Gritos de raiva, de dor, de crueldade. Vermelho-sangue: essa era a cor da luta.
   E esse mesmo vermelho, vermelho-sangue, era a cor da paixão, cor do líquido que corre pelas veias e chega ao coração. Coração que não bateria mais.
    Músicas não seriam mais ouvidas.

sábado, 24 de abril de 2010

O velho vento de sempre

_ Pode dar meia volta? - já estava quase chegando e ao invés de sorrir, começou a bater uma tristeza. Planejara a viagem por dias e agora, pedia para voltar.
_ Voltar pro Rio, senhora? - perguntou o motorista
_ Não. Nem pro Rio, nem seguir em frente. Só dá meia volta e fica pela estrada mesmo. Conhecendo novos atalhos e caminhos para se chegar a lugar nenhum.
Queria deixar o vento tocar no rosto para sentir-se livre e comandante do próprio destino. Seria a dona da história. Escreveria à caneta - "as frases de caneta você não pode apagar" - todo um livro da vida que buscava constantemente. Jogaria dentro da velha mochila meia dúzia de roupas, umas maquiagens e alguma coisa para se distrair como um livro, um álbum de figurinha ou música. Fecharia a porta por diversas vezes mais e diria: "Só volto na sexta. Não me esperem para jantar."
O que encontraria não saberia dizer, até mesmo porque não procurava por nada. Ou talvez procurasse. Nós vivemos sempre a procura de amor, paz, felicidade e qualquer coisa que soe como desejos de aniversário ou Natal. Então era fato que, mesmo indiretamente, ela procurava pelo mesmo. Mas desistira de buscar pelo príncipe encantado, por respostas e por sinais de fogo. 
Queria ver o verde correr pela janela e intercalar velocidades - andar devagar para observar a paisagem de um jeito que de olhos fechados ela conseguisse relembrar cada detalhe, e acelerar tanto ao ponto de não reconhecer o que passa ao seu lado.
Só queria não ter obrigação de nada, nem se pressionar para que corresse atrás dos sonhos que ela criava, sozinha, na rede. Fecharia os olhos e ouviria o som das águas do rio, passando ao fundo, levando o que tivesse que ser levado e o que não devesse também - talvez -, porque sentia que quando toda essa vontade de não viver de extremos passasse, seria capaz de construir tudo de novo: casa, represa e empresa.

O título é por causa dessa minha mania de falar sempre do vento.
Não sabia dessa minha obsessão por ele. Acho que ando esperando 
que minha vida pegue carona com o vento
e chegue logo até mim. Vai entender...

domingo, 18 de abril de 2010

Por não estaremos distraídos

"Foram então aprender que, não estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos"
( Para não esquecer, Clarice Lispector)

O telefone não tocava, a campainha não soava...
A que horas chegarão as flores que você mandou me entregar?
A que horas você surgirá embaixo da minha janela,
com um violão nas mãos, cantando a nossa música?
Por quanto tempo mais sentirei meu coração acelerar
percebendo que o celular me chama?
E por quantas vezes mais me decepcionarei por descobrir que não era você?

Sempre que fecho a porta deixo meu coração e minha cabeça dentro do cômodo
Esperando que o mundo mude, que a vida aconteça
Que quando eu feche os olhos você surja ao meu lado
E me diga tudo aquilo pelo qual eu sempre esperei
E que eu possa te sentir nos mais leves pensamentos

Mas eu tenho que me desligar
Ser tão despreocupada a ponto de tropeçar em evidências
Fingir que não vejo essa mágica que nos cerca
Quem sabe assim ela não nos envolva feito corda
E aperte tanto que eu consiga sentir seus lábios tocarem os meus?

Fecharei meus olhos e deitada, ouvirei uma música qualquer
Uma música que não me lembre nada
E assim ficarei até que você reapareça
Pra dizer que está tudo bem, que tudo não passou de uma loucura
E que seguiremos vivendo de amor e música

domingo, 11 de abril de 2010

Tempestades em alto mar

   Cai uma chuva que imagino ser capaz de derrubar morros, arrastar casas e fazer correnteza, mas não dá pra saber. Estou no mar. Pelo menos é assim que me considero. Eu e vocês; fazendo parte desse navio que antes nos levava para a eternidade e hoje, para lugar nenhum.
   Sinto-me como o capitão, aquele que sabe que tem uma missão e está entusiasmado com a mesma. Seria capaz de vender os olhos e os ossos para conseguir que tudo tenha o fim esperado e que o navio aporte no lugar certo, no tempo exato.
   Enquanto sinto vocês como os trabalhadores do navio. Cansados dessa vida em alto-mar. Sempre a mesma água transparente. Sempre céu cinza ou azul. As mesmas caras; todos os dias, o mesmo sol. Que monotonia! Vocês estão enjoados e refletem, no olhar, o quanto pensam que é melhor esse navio afundar logo. Tudo acabaria  de uma vez. Vocês não se importariam.
   A verdade é que barco não navega só com o capitão. Se os marujos não ajudam, "Olá, fundo do mar. Chegamos, enfim". Se vocês não ajudam, bom, não vamos chegar nem ao porto seguinte. Todos esperarão pela volta que nunca ocorrerá, porque até mesmo a ida ficará pela metade.
   Só queria dizer que estou exausta de pilotar sozinha. Levanto a bandeira banca, peço paz, mas me rendo também. Estou fora e pulo na água se for necessário. Iremos afundar e lá embaixo, ficar para sempre ou até que subamos para a superfície em busca de ar. Cada um por si. Boa sorte para vocês, pois sei que vou precisar.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Look at the stars, look how they shine for you and everything you do

_ O que houve, querida? - perguntou preocupado. Ela estava com um bico imenso para uma menina de 16 anos
_ Levaram minha estrela
_ Para onde?
_ Não sei. Acho que pro céu - estava desolada
_ Quem levou? - as coisas não faziam sentindo pra ele ainda
_ Não sei, querido. Eu estava deitada na grama, olhando a lua, até que cai no sono. Quando acordei, ela não estava mais ali.
_ Temos que procurá-la. Ela pode estar embaixo da árvore, atrás da moita...
_ Não! Ela está no céu. Sinto isso
_ Então, será que não é bom ela estar lá? Ela pode brilhar acompanhada das outras e da lua.
_ Mas e eu? Fico sem o brilho dela? Sem poder observá-la e fazer meus pedidos antes de dormir? Fico sem nada para me consolar quando chorar no travesseiro?
_ Nada está te impedindo de continuar fazendo isso. Ela continua te olhando e brilhando, brilhando, brilhando, brilhando...



 
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